28/02/11

Interlúdio - A Arte do Silêncio

Estrelas brilhantes de um intenso dourado que ofuscam o olhar, azul claro de um infinito sem distância perdido na procura de algo, uma bola bate incessantemente de encontro ao chão negro que se transfigura num espectro medonho, fuga impossível a tamanha perseguição... Sinto a luz a bater-me nos olhos e o corpo a despertar de uma doce dormência, suavemente entreabro as pálpebras e aprecio o embalo da trepidação do autocarro... de volta à vida.
À minha volta reune-se um grupo de raparigas novas provavelmente da preparatória e dá-se um fenónemo interessante, não obstante terem estado todo o dia em contacto, sentem uma necessidade de comunicar através de uma loquacidade imparável que nem a força de uma barragem poderia suster.
Dou por mim a interrogar-me acerca da razoabilidade de tal comportamento e chego a uma conclusão, caladas fariam um favor a elas e aos outros, por si só, tal já era uma justificação meritória para deixarem de falar.
Este tipo de comportamento deveria ser combatido desde tenra idade nas mulheres, sob pena de depois ser tarde demais, não que o sexo feminino diga mais disparates que o masculino, mas a lógica leva-nos a concluir que o problema reside noutro aspecto.
Atente-se ao seguinte, partindo do princípio que os dois sexos dizem idiotices na mesma proporção, a balança desiquilibra-se quando tomamos em consideração que as mulheres dizem uma quantidade de palavras por dia muito superior ao homem, logo são mais oportunidades para cair na tentação do disparate...
Eis chegados a uma nova paragem, entram mais raparigas e o contingente é reforçado com a amiga gorda do grupo que compensa o aspecto com "carisma", traduzido na capacidade de dizer graçolas e tecer comentários em voz alta acerca de tudo e de todos, triste sina a minha, depois de seca no trabalho seca no autocarro...
A neblina aproxima-se e tudo encobre, sinto os olhos turvos e o corpo a fugir para outro lugar, boas novas parece que consegui fugir a mais um suplcício, pelo menos até despertar novamente.

2 comentários:

Gersão disse...

"Sinto a luz a bater-me nos olhos e o corpo a despertar de uma doce dormência, suavemente entreabro as pálpebras e aprecio o embalo da trepidação do autocarro... de volta à vida."

e eu que pensava que ninguém escrevia melhor do que eu por aqui :p
muito bem!

. disse...

só venho aqui dizer que regozijei com este post mas que ainda não consegui inspiração suficiente para um comentário à altura.

boa carlos!