15/03/11

José Carlos Rates

José Carlos Rates, fundador do PCP e seu primeiro secretário-geral, após o seu afastamento do partido, aproximou-se do regime do Estado Novo, num processo idêntico a outros militantes operários, que tinham sido sindicalistas-revolucionários. A 16 de Julho de 1931, o jornal oficioso do regime, Diário da Manhã, publicava o seu pedido de adesão.
Primeiro quero deixar bem claro que não coloquei esta notícia com o objectivo de atacar os "camaradas" cá do sítio, mas antes, porque na entrevista que confere ao Diário da Manhã a justificar a sua adesão ao partido União Nacional, José Carlos Rates revela uma visão fantástica dos primeiros tempos do regime do Estado Novo.
É muito interessante observar como um homem revolucionário de esquerda preferiu apoiar uma ditadura de direita às custas do sistema republicano multipartidário. Dois pontos saltam à vista, por um lado o falhanço da Primeira República ainda estava bem presente na memória de todos, por outro lado o ódio visceral do comunismo e da "ditadura" aos partidos políticos.
A questão que quero levantar é será que a diferença entre uma ditadura de direita e de esquerda não é muito mais ténue que a diferença entre qualquer uma destas ditaduras e o sistema pluripartidário? Note-se que falo de diferenças reais e não das diferenças meramente semânticas ou dogmáticas.
Na minha opinião considero que o testemunho histórico de José Carlos Rates é indiciador de uma proximidade inegável entre estes dois pólos extremos, senão quanto aos ideais pelo menos quanto aos métodos.
Todavia, deve ter-se em conta que José Carlos Rates foi expulso em 1926 do PCP por desviacionismo às directivas políticas da Internacional Comunista e que a entrevista remonta a 1931, ou seja à fase embrionária do Estado Novo.
(clicar no título para ver entrevista original)

2 comentários:

Gersão disse...

Depois de ler partes da entrevista, pelo que percebi o homem, descontente com a gestão republicana aderiu ao partido do estado novo. Afirma ainda que não há sistemas sociais perfeitos e definitivos nem fórmulas definitivas e aponta falhas ao sistema em que se está a inscrever.

Parece-me claro que este homem decidiu fazer parte da ditadura para poder contribuir para ameniza-la de alguma forma, não tanto por uma questão de semelhanças ideológicas.

Carlos disse...

Ameniza-la? Sinceramente não me parece, repara que ele diz "o que os partidos não souberam fazer é necessário que o façam outros. E será esta a obra da União Nacional (...)".
Não creio que seja possível amenizar uma Ditadura defendendo a continuação e preponderância de um só partido. O que ele parece querer dizer, na minha opinião, é que é mais fácil atingir e implantar as medidas conotadas com o comunismo, que ele parece não ter abandonado completamente, numa ditadura, seja ela de que campo político for, do que numa democracia.
O mais interessante é ver que as ideias totalitárias exerciciam sobre os políticos da época um fascínio incrivel, independentemente do extremo em que se situassem as ideologias, parece-me que a Primeira República não deve ter sido um tempo muito feliz...